domingo, 29 de abril de 2007

Saudade de ti...


Sinto-me longe de ti a cada desabafo,
talvez só agora consigo perceber o impossivel...
Talvez só hoje saiba que não somos mais,
não temos nada que nos una, nunca tivemos,
o mais perto que tivemos foi todas as lágrimas
que por ti chorei nestas noites solitárias,
em que cego com o amor fui ingénuo,
voltei á infância numa profunda e correcta psicanálise,
num arder de emoções e de saudade de ser frio.
Quem dera que nada do que tu dizes me mata-se,
quem dera meu anjo, quem dera não existires...
Como será o meu mundo quando partires?
Um manto negro, um olhar vazio....
Uma vontade de fugir para longe, de ser amnésico,
uma sensação de fome que me mata o estômago,
o coração atravessado na garganta, uma sede,
uma oportunidade desperdiçada de me mudar,
um nada, um sofrimento, um pedaço vazio,
um puzzle sem peças, um mar sem sal...
Será que alguma vez vai chegar a isto?
Se assim for já fico contente....
Ainda estou vivo....

quarta-feira, 25 de abril de 2007

Barca dos Sonhos

Lá longe, navega-se...
Navega-se entre as ondas bravas
os céus negros como os meus olhos.

Navega-se a cada olhar a tristeza,
navega-se no mar salgado os sonhos.

Longe vai já esta barca,
que perde-se no horizonte da desilusão.
Pobres marujos pouco valem...
Navegam os socalcos da dispeneia
do teu olhar da tua presença.

Perdeste no horizonte rumando a nada,
levantas as velas ao vento para te levar...
Mas nem ele te quer levar consigo.
Parte em paz...

Por mais vendavais que enfrentes,
nunca vais ceder porque nem eles te acolhem...
Nem eles querem saber porque vives, oh barca...

Soltaram-te as amarras um dia, e tu, desamparada,
foste rumando mar a dentro, onde nada encontras...
Foste procurar um porto de abrigo, um lugar,
foste tentar dar a tua força ao mar.

Mas este mar, não quer a tua força tambem...
nada quer saber da tua deambulação,
nada interessa ao mundo os teus cascos
a tua vontade, a tua coragem...

Oh Barca, continua rumando ao desconhecido,
um dia quando o vento já não soprar
e o mar te ignorar completamente, vais atracar,
vais encontrar porto seguro onde possas comer o desejo,
beber o amor numa ilha distante onde nada te encontre.

Talvez aí, o vento sopre para te levar,
o mar tente mandar-te abaixo, rasgar o teu casco,
mas nessa altura onde o ciume apertar,
vais ser forte, e nada te poderá derrubar.
Não é sempre assim?

Esperança

Esperança porque vens tu matar-me?
Dizer-me que impossivel é não morrer...
Alimentar esta chuva ácida de lágrimas,
beber de uma garrafa o gosto da desilusão,
comer do ar a insuficiencia de não respirar.
Esperança....
Inimiga da minha vida que tu te tornaste,
é tão facil viver vazio como as minhas noites
mais facil ainda não esperar em cada esquina
que a vida mude e que seja novamente feliz.
Vai embora, deixa-me viver o sol das manhas,
deixa-me correr livre nos meus sonhos
sem que me obrigues a ver o que não existe.
Deixa-me viver, por favor, deixa-me calar,
deixa-me simplesmente sozinho...

quinta-feira, 19 de abril de 2007

VI

Este chão que pisamos
não é mais nem menos, é nosso,
porque os nossos passos são sempre nossos,
o cordão desapertado é continuamente nosso,
o risco de tropeçar e beijar á força o chão
é nosso...

É nosso o dia que nasceu hoje,
com o sol no alto do céu, bem longe,
pisamos os passos de ontem cegamente,
porque cegamente o caminho é lento,
cegamente pisamos a calçada da desilusão.
Cegamente, não vemos um palmo á frente
fruto do nevoeiro que nos trás a memória.
De olhos vendados continuamos,
hoje, sempre, continuaremos vendados...

quarta-feira, 18 de abril de 2007

V

Que me importa que não me ames?
Precisas de mim hoje e sempre...
Que me importa saber a tua desilusão,
seja ela qual for eu estou lá na mesma!
Seja o fundo do poço mais fundo, estou contigo...
E sabes bem que não minto meu amor,
sei lá o que vai nessa cabeça...
Nem sequer me interessa...
Mas mesmo sabendo que não me amas,
encosto em ti como um barco sem rumo
e espreito entre os mastros o paraíso,
mesmo sabendo que não me amas...
Meu amor, mesmo sabendo que para ti,
sou o nada das noites que passamos
o canto escuro da minha alma.
Mesmo sabendo isso, sei que te amo...
O arrependimento é fogo que arde lento e mata depressa.

IV

É tão bom não escrever mesmo gastando tinta,
Rebentando nos bicos de ponta fina a paixão
recebendo do papel uma magia, um contraste,
um branco sujo de tinta rebelde, de amores fugidos,
uma mágoa resolvida na carga azul que tu transportas,
uma divagação perdida no bailar dos dedos.
É tão bom escrever-te mesmo sabendo que não lês,
que não queres sequer saber da mágoa dos meus dias,
mas mesmo assim é bom ter-te no papel,
rasgar o escrito para não lembrar mais esta tinta,
criar o sonho num desenho esboçado em memórias
que mais tarde escrevemos neste livro,
com a tinta que me corre nas veias,
com a tinta que me riscaste da tua vida.

terça-feira, 17 de abril de 2007

III

E construimos da chama a fogueira,
compreendemos que não somos mais
ou se calhar nunca fomos, lenha.
Nunca ardemos no auge de um fogo descontrolado,
nem tão pouco fomos calor que nos aquece
que nos derrete a alma em sabor de paixão,
afinal depois de tanto tempo nunca fomos...
Não fomos sequer a acendalha de um lume
nem um pedaço de terra queimado pela fogueira,
não fomos meu amor, nunca fomos.
Não tivemos o oxigénio suficiente para arder,
para aguentar a força desta nossa asfixia
não, não houve nunca fogueira, só a chama,
que mesmo sem nunca arder
transformou-nos em cinza ás portas de um vendaval.

segunda-feira, 16 de abril de 2007

II

Já vai baixo o sol do dia,
ve-se a lua a marcar posição,
a escuridão da noite como companhia
um apelo ás dores esquecidas do coração.
Rezo por algo todas as noites,
mesmo não sabendo bem o que, rezo....
Invento orações, palavras,
tento sair deste mundo que menosprezo,
neste mundo que vivemos de facas apontadas,
em que todas as palavras que não oiço
são cá dentro enormes desastres, facadas.

É como se o teu rosto fosse a face da noite,
a lua como um candeeiro para te iluminar,
as estrelas uma companhia do meu imaginar.
Como se tivesses asas de condor e voasses,
lábios de veludo e pele de água cristalina,
o teu corpo como o vento bailando suave,
o teu beijo como uma tentação incontrolável...
É como se vivesses cá dentro,
corresses as minhas veias, alimenta-me.
Dá-me vida, faz-me respirar a cada segundo,
juntos não sabemos ser nem conseguimos estar,
mas longe é como bater bem fundo,
cortarem-me a garganta e não conseguir falar.

sexta-feira, 13 de abril de 2007

I

Em que estado
nos juntamos com o corpo,
fundimos os prazeres,
matamos os desejos,
raspamos nas paredes,
olhamos a calçada da cidade,
em que inicio acabamos,
de que fim nos libertamos,
em que maré alta nos afogamos...
Cruzamos os pensamentos,
mas hoje e sempre continuamos.
Que rasgo no céu, que tremor,
que liberdade feroz e calada...
fundindo a mente pensamos
e enquanto por dentro vamos chorando,
passeamos o pensamento no corpo
na maneira como vamos deambulando.

segunda-feira, 9 de abril de 2007

Se nas minhas veias houvesse flores proibidas
pétalas de lotus, magnólias e jasmim,
teria as palavras bem mais sentidas,
as memórias teriam o sabor de vividas
e não o sacrilégio das memorias arrependias.
Teria a mente como um manto de cetim,
deitavas o teu peito nos pícaros do meu auge
pecavas no teu rio de água branca, esquecias...
davas o mundo de bandeja, uma lágrima para mim,
um pouco de rosas vermelhas, um gesto,
olhavas o mundo como um simples afecto
assim se isto tivesse, por mim morrias.

sábado, 7 de abril de 2007

De todos as pessoas que vejo
não sei com quem me vou abrir,
comentar, falar, exprimir...
Hoje foste uma surpresa para mim,
uma amiga, um refugio, um lago.

Um lago que compreende a minha miséria,
onde o lodo se acomodou em ti como comigo...
Onde nascemos para a vida tarde,
mas em que o medo deixou de ser palavra,
morreu, desapareceu, somos novos.

Contigo posso desabafar o medo,
porque tu também o tiveste contigo,
sabes o que é a besta do hábito,
o nunca de todos os momentos
o amor em desespero, o fugir,
o correr para longe, chorar os anos...
Sabes o pouco que eu nunca disse,
conheces o lado escuro do amor.

Ainda bem que apareces-te hoje,
era de alguem que compreende-se isto,
que chorou as mesmas lágrimas que eu,
que beijou a liberdade de olhos fechados,
era mesmo de ti.... De tudo isto, de esta noite.

Não há refugio como o teu ombro,
não existe momento como a tua cabeça,
tudo o que tu és, deitada no meu colo.
Suave como o mel, dura com a vida,
é assim que nós somos, e nos fizemos,
caímos longe, mas levantamos e seguimos.
Fazes-me sentir forte no meio do mundo,
de mãos atados com o amor, refizeste-me.

terça-feira, 3 de abril de 2007

O primeiro mes....

Hoje tenho esta liberdade,
a paz da toda a bonança,
o sonho da vida com a facilidade,
o brinquedo nas mãos de uma criança.

Hoje fiz-me tremendo de pavor,
um barco, uma água, uma corrida
uma paz que se sente na minha dor
uma estupidez desta minha ferida.

Uma encosta, uma vida, um sonho,
um pedaço de céu um paraíso
estas lágrimas que a mim me imponho,
como um lago quase perdido.
O filme de guerra mais enfadonho,
um amor na memoria que hoje tenho esquecido.

Hoje não sou teu, nem de ninguém,
hoje sou um rio, uma maré, um mar...
um refugio na minha própria dor... porém,
uma muralha que me apetece saltar
Um silencio nas lágrimas para nada me encontrar.

segunda-feira, 2 de abril de 2007

Falto-me a mim.... Sinto a minha falta!
Não sei quem trouxe este desajeitado,
imponente, bruto e ainda fraco...
Que falta que eu me faço.
Que companheiro tive no passado,
gostava de mim mais que nada
adorava passear comigo, viver-me,
hoje fugi, não sei bem onde estou.

Marquei-me a mim próprio,
hoje resta-me saudade de outrora,
saudade de ser a felicidade que era
de ser meu, e mais ninguém me amar tanto,
gritava sozinho comigo, ria-me comigo.
Que saudade deste espelho que hoje mente
como gostava de brincar comigo próprio,
fosse pelo que fosse.

E hoje o que sou?
O arrependimento do passado,
uma réstia de um amor meu,
um pedaço de nada, de vazio.
Sou como nunca, e nunca o quero ser,
sou o que não quero e não volto,
sou vazio sem ninguém que me acorde,
uma besta ferida, uma doença para mim.
Já não sou...

domingo, 1 de abril de 2007

Que ignorância nos deixa mais feliz?
O falar do que já sabemos e ver então
que nada do que era sabido é verdade?
Ou o não saber e ter o mundo como tutor?

Era tão bom não saber nada de nada,
viver apenas para respirar este ar,
viver porque todos vivem e nós também...

Como era bom não saber a que sabe a comida,
não ter na boca o sabor amargo do cigarro,
não conhecer a cerveja pelo sabor mas sim pela frescura,
sabia lá bem o que é a vida se só vivesse para viver...
Que feliz que eu podia ser a não descobrir.

E se todos os dias fossem novos?
A felicidade seria cravada nos nossos sorrisos,
sorriria o dia todo porque tudo é novo, novidade...
Mas hoje já pouco me espanta o mundo,
pouco tenho que não saiba, mesmo não querendo nada.
Nem sequer quero aprender mais,
aprender é achar problemas, é chorar, riso cínico.

Quem dera acordar e perguntar porque são verdes as arvores,
porque é que o céu é azul e tem pedaços brancos a dançar?
Como era bom os dias começarem sempre assim,
amaríamos o desconhecido como forma de protesto ao coração,
não sentiria a dor na garganta, nem o nó no estômago.
Seria ingénuo hoje e sempre...

Quem dera esquecer que o mundo é um inferno,
a injustiça maior na mão de Deus,
a água estanque no lago da desilusão,
um caminho sinuoso em terra batida,
um paraíso de desilusão e desrespeito,
uma selva de materialismo.
Quem dera ver pela primeira vez
o que já vimos toda vida...
Quem dera renascer a cada manha,
sentir o calor do sol no rosto
amar como se fosse o primeiro beijo...
Quem dera.....