domingo, 17 de junho de 2007

I

Na noite vadia, perdida,
na noite fria, inquieta, ardente,
no limiar das sensações de um dia,
na ternura do beijo embriagado,
na fachada da paixão bebida,
num gesto perdido no nada,
no seio de uma noite calada,
depois de uma cerveja gelada,
vejo nos teus olhos cansados
a noite que em mim acaba.

II

Peca-se na estrada da noite o amor,
a luz que ninguém vê no abraço que nunca se sente,
na escuridão apenas quero sentir o teu respirar sobre o meu pescoço,
um ardente desabafo em forma de beijo mentido
enquanto todos os candeeiros se apagam para nós sermos felizes.

III

E enquanto te escrevo, lento,
olha para a lua sorrindo...
Conto á caneta os segredos nossos,
os rituais, o hábito dos nossos dias.
Enquanto vou passeando á noite,
encontro-me contigo na lembrança,
trazes até mim uma certeza, a mudança,
trazes o renascer, o sentido,
ofereces na tua noite um pedaço de esperança.

IV

E devagar me aproximo de ti,
vamos falando, sorrindo para ninguém,
trocando um olhar tímido por entre copos,
vamos transformando a timidez em palavras.
Vamos então passeando o corpo devagar
mostrando a vaidade num olhar desviado,
vamos aproximando a palavra num gesto parado,
vou saltando cá dentro mesmo estando sentado,
vou construindo na ilusão a memória
sufocando nos risos da minha própria palavra
vou ficando sem ar para te respirar
construindo assim a nossa história.

V

E então prosseguimos com a romaria,
por um nada damos tudo e ao contrário.
Pela tua fachada insegura, rebelde temos zero,
por um beijo, um segundo, um impulso tenho-te...
Nem que não seja na memória ardente de hoje,
no nunca do que tu me dizes, na fantasia em que vivo,
no oceano perdido no desejo do nunca vai existir,
numa veia rota, numa simples acção, num espaço,
nisso tenho o amor que não me deste nem vais dar,
nisso tenho-te a ti, meu anjo, tenho-te cá,
reservo-te este canto que tanto te prometi.

VI

"E dos lábios desejosos fiz lágrimas
no dia em que esse beijos me deixaram
de me cheirar a amor e saber a saudade...
apenas café e chocolate amargo."

Inês Fernandes

VII

E eis então que reparamos no nada,
no nada que não queres dar mas dás menos.
E eis que depois de movidos os peões,
de seguídos xeques ao teu rei,
de tentar tombar a tua rainha com um simples cavalo,
de mover as peças sem nexo, fazendo roque,
escondendo o meu rei atrás de nada,
moveste então a coragem da tua torre,
e num simples olhar, sincero,
reparamos que agora sim, é Xeque-Mate.

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