quarta-feira, 27 de junho de 2007


Há dias em que nem a morte nos chega, há dias assim solitários, tristes, escondidos atrás da memória de ser feliz.
Dias que não são dias nem nada que se pareça com viver, estes dias, salas de tortura do meu pensamento, prisioneiro da rotina que nos absorve mais rápido que água numa esponja, esses dias que nos fazem transbordar a raiva, que nos impede de continuar a usar a cabeça e nos obriga a uma ligação directa entre a boca e a palavra, estes dias...
Estes dias negros como o sol que brilhou, estes dias em que não quero a morte pois acredito na vida depois dela...
Não quero sequer acreditar nisso pois se tivesse que morrer hoje depois de soltar suor no meu trabalho, e de estar só comigo, prisioneiro num nada concreto, nem morrer me apetece, quem sabe iria respirar para outro lado...
Não me matem que morto já eu estou, simplesmente façam desaparecer as minhas cinzas ao vento como desapareceu de mim o brilho dos meus dias, o calor de um beijo desejado, a força de uns braços fracos.
Não me olhem, se por momentos alguém me conseguir amar, não me falem sequer... preciso simplesmente que me respirem tão atentamente como acolhemos o ar nos nossos pulmões.
E cedo chega então a noite, chega o meu canto de sossego, chega para mim um pouco de ar fresco.
Não respiro o transito sufocante, nem sequer respiro a ilusão da aparência que nos rodeia.
Respiro devagar, aos soluços murmurantes de uma lágrima a lua, a paz nas minhas veias, respiro as palavras que dito escondido a alguns quilometros de distancia de mais um nada, de mais uma corda na garganta que me ataca a saudade e a incerteza com expressoes de um frio glaciar que me derrete o coração numa banida amizade com bicos soltos que tenho medo de os curvas.
Não me chega a morte para me livrar de mim nem tão pouco para me matar o desgosto.

domingo, 17 de junho de 2007

I

Na noite vadia, perdida,
na noite fria, inquieta, ardente,
no limiar das sensações de um dia,
na ternura do beijo embriagado,
na fachada da paixão bebida,
num gesto perdido no nada,
no seio de uma noite calada,
depois de uma cerveja gelada,
vejo nos teus olhos cansados
a noite que em mim acaba.

II

Peca-se na estrada da noite o amor,
a luz que ninguém vê no abraço que nunca se sente,
na escuridão apenas quero sentir o teu respirar sobre o meu pescoço,
um ardente desabafo em forma de beijo mentido
enquanto todos os candeeiros se apagam para nós sermos felizes.

III

E enquanto te escrevo, lento,
olha para a lua sorrindo...
Conto á caneta os segredos nossos,
os rituais, o hábito dos nossos dias.
Enquanto vou passeando á noite,
encontro-me contigo na lembrança,
trazes até mim uma certeza, a mudança,
trazes o renascer, o sentido,
ofereces na tua noite um pedaço de esperança.

IV

E devagar me aproximo de ti,
vamos falando, sorrindo para ninguém,
trocando um olhar tímido por entre copos,
vamos transformando a timidez em palavras.
Vamos então passeando o corpo devagar
mostrando a vaidade num olhar desviado,
vamos aproximando a palavra num gesto parado,
vou saltando cá dentro mesmo estando sentado,
vou construindo na ilusão a memória
sufocando nos risos da minha própria palavra
vou ficando sem ar para te respirar
construindo assim a nossa história.

V

E então prosseguimos com a romaria,
por um nada damos tudo e ao contrário.
Pela tua fachada insegura, rebelde temos zero,
por um beijo, um segundo, um impulso tenho-te...
Nem que não seja na memória ardente de hoje,
no nunca do que tu me dizes, na fantasia em que vivo,
no oceano perdido no desejo do nunca vai existir,
numa veia rota, numa simples acção, num espaço,
nisso tenho o amor que não me deste nem vais dar,
nisso tenho-te a ti, meu anjo, tenho-te cá,
reservo-te este canto que tanto te prometi.

VI

"E dos lábios desejosos fiz lágrimas
no dia em que esse beijos me deixaram
de me cheirar a amor e saber a saudade...
apenas café e chocolate amargo."

Inês Fernandes

VII

E eis então que reparamos no nada,
no nada que não queres dar mas dás menos.
E eis que depois de movidos os peões,
de seguídos xeques ao teu rei,
de tentar tombar a tua rainha com um simples cavalo,
de mover as peças sem nexo, fazendo roque,
escondendo o meu rei atrás de nada,
moveste então a coragem da tua torre,
e num simples olhar, sincero,
reparamos que agora sim, é Xeque-Mate.

quarta-feira, 6 de junho de 2007

Um paraiso nos teus olhos

Vi o teu vestido branco,
vi o teu vestido....
vi o teu vestido imaculado, lindo!
Mas sei apenas que não passa de fachada,
por dentro tens um oceano de sentimentos,
um jardim de rosas vermelhas,
um passeio cinzento, uma chuva,
dentro de ti tens a memoria de ontem,
dos dias que foram para ti passagem,
das horas que foram um nada constante,
dos minutos que foram sorrisos,
dos segundos que foram eternidades em mim.

Embora esta festa não fosse minha nem tua,
o teu vestido tinha a cor dos teus lábios,
tinha o sensual dos teus momentos,
o teu vestido tinha a minha paixão,
tinha o meu desejo cravado,
o teu vestido pintou a paixão de branco,
um branco que só tu transpareces.

terça-feira, 5 de junho de 2007

A vocês meus amigos

Se a amizade é um recanto,
se a fortuna é um tipo de felicidade,
se a tua boca foi um desvaneio,
os teus lábios uma virtude...Não quero saber mais de nada,
quero apenas viver os vossos beijos,
as vossas vontades cegas em nada,
os nossos percursos dificeis,
quero apenas saber que voces estão comigo,
poetas da minha vida...

domingo, 3 de junho de 2007

Mostrarei um dia a todos voces
que nunca estive errado nem sequer longe,
mostrarei que o meu rio é grande,
a minha vontade um gigante.
Mostrarei em águas limpidas vontade,
podem verificar que é triste,
mas nem sempre verdade a melodia.
Afinarei as minhas cordas vocais para cantar,
a melodia será em mim um desabafo,
saio sem corridas morbidas deste poço,
mostrarei que sou maior que os gigantes.
Mostrarei que as vossas palavras, silencios,
não vão ser nada no meu livro da vida,
Mostro quando voces abrirem os olhos
que não vos nego, nunca o farei,
simplesmente ignoro a vossa arrogancia
e vivo nas minhas palavras a vossa miséria.