sexta-feira, 30 de março de 2007

"Rua António Ramalho"

Todos os dias passo por ti, percorro-te...
Vejo os toldos vermelhos dos cafés
onde noites por vezes passo na conversa,
com uma cerveja gelada, futebol, companhia.
Mas a vocês já nada interessa, a vossa vida,
a vossa bola de neve, está feita, agora só
vos resta apenas viver.

Não é a idade que vos consome,
não são os números que nos ditam, que falam...
É o conformismo da desilusão desta vida,
injusta, fria, cruel, em que vocês se agarram
a pequenos nadas para acariciar o rosto, a mão,
que se calhar já antes tinha sido beijada por amor.
Mas que vos vale hoje isso?
Vale que vêem no nada um forte incentivo para viver,
uma fonte de prazer na discussão mais simples do mundo.

Como vos invejo Senhores da minha rua...
Quem dera passar a perna nos problemas de tal maneira,
troçar como em criança do colega que caiu no recreio,
causar a discussão para mais tarde nos rirmos,
gargalhadas felizes, gargalhadas de conformismo.
Como gosto de aprender nas vossas palavras
a maneira de me conformar com o que a vida nos dá,
tentar fazer como todos vocês que não são felizes
mas que não procuram nunca mais a felicidade.
Encontram-se felizes num inferno de problemas,
quem me dera Senhores...

Falo com vocês e depois está na hora de seguir,
saio e olho para a janela do meu mundo,
do meu quarto, do meu refugio da dor e companheiro.
Pergunto-me por vezes de olhar no chão,
percorrendo esta rua em passos seguidos de desilusão;
"Quantas vezes já amei fechado em ti?"
Perco-lhe a conta....
Amei o corpo bem feito de um grande amor que passou,
amei em palavras, amei no telefone nas horas da madrugada
amei no toque, nos textos que escrevi, na vontade...
Amei tanto dentro de ti, sinto-lhe o cheiro.
O odor do amor, do corpo colado a mim, das palavras,
dos beijos, da tinta da caneta, sinto tudo isso no ar.

Enquanto não me tiraram o sonho, amei como um perdido.
Fui um perdido, um agarrado ao amor, um dependente,
libertei-me para amar, levantei asas, que saudade que tenho...
Não de ti, não de mulher alguma, não de amigo algum,
não de amar noites seguídas nesta cama, nada disso.
Mas tenho saudade de saber o que é poder amar alguém,
fosse a fazer o gesto mais desajeitado do mundo, a morder
como um cão de rua.

Mas é assim esta minha rua, onde já correu água minha,
onde ela sabe que sentado nos seus passeios já discuti,
falei, amei, contei, sorri.
Ela sabe, mas nada vos conta, são assuntos nossos que
a cada noite quando volto para casa ela pisca-me o olho
e deseja-me uma boa noite, ou por vezes chora e pergunta
porque não volto a amar como antes?
Ao qual eu me forço a ter que responder;
"Companheira, amar não é o instinto, não é paixão...
Amar é saber jogar as peças na altura certa,
amar não passa de um jogo de oportunidade...
E eu deixei passar o meu tempo, e agora....
agora vou para o refugio pensar no que amo,
ou no que penso amar.
Boa noite"

2 comentários:

Anônimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...
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