sábado, 31 de março de 2007

Aquae Flaviae


Guardo no meu cofre secreto,
nas minhas imagens, no meu pensamento,
os momentos que passei a pisar-te,
a fitar-te em cada olhar, em cada depressão,
jogar nas tuas ruas o jogo da vida.

Levei de ti a vida que sempre foi verdade,
levei contigo o amor, a memoria, a lembrança.
Levei comigo o teu acolhedor canto,
as tuas muralhas, a tua paixão, a tua vontade,
levei a força de lutar de ti, levei-te comigo.

Bela como o rosto do meu amor, és a minha casa,
és o conforto que muitos negam, és a vontade.
És a força para viver, és a coragem no nada
uma força exterior, um bater do coração.
És tu, bela e formosa, imponente...

Tremem os Homens quando te vêem,
treme o coração das mulheres, a coragem dos heróis,
treme o mundo a teus pés, treme a saudade na lembrança
tremem as recordações, os homens que te quiseram.
Nimguém foi tão forte como tu...
Nimguém bateu os Homens que por ti morreram.

Treme o mundo quando tu apareces,
choram por ti os Homens de hoje...
Choram a tua paz, a tua segurança, a tua invencibilidade.
Choram porque não te possuem,
nunca foram parte de ti, por isso temem a tua presença,
fui em ti, deste-me o amor, a presença, a rebeldia,
deste-me a vontade de lutar, vontade para amar,
e eu dou-te tudo isto, cidade da minha vida.
Dou-te a alma, a Chave do meu coração,
dou a vontade á tua gente para que sejas sempre,
infinitamente nossa.

sexta-feira, 30 de março de 2007

"Rua António Ramalho"

Todos os dias passo por ti, percorro-te...
Vejo os toldos vermelhos dos cafés
onde noites por vezes passo na conversa,
com uma cerveja gelada, futebol, companhia.
Mas a vocês já nada interessa, a vossa vida,
a vossa bola de neve, está feita, agora só
vos resta apenas viver.

Não é a idade que vos consome,
não são os números que nos ditam, que falam...
É o conformismo da desilusão desta vida,
injusta, fria, cruel, em que vocês se agarram
a pequenos nadas para acariciar o rosto, a mão,
que se calhar já antes tinha sido beijada por amor.
Mas que vos vale hoje isso?
Vale que vêem no nada um forte incentivo para viver,
uma fonte de prazer na discussão mais simples do mundo.

Como vos invejo Senhores da minha rua...
Quem dera passar a perna nos problemas de tal maneira,
troçar como em criança do colega que caiu no recreio,
causar a discussão para mais tarde nos rirmos,
gargalhadas felizes, gargalhadas de conformismo.
Como gosto de aprender nas vossas palavras
a maneira de me conformar com o que a vida nos dá,
tentar fazer como todos vocês que não são felizes
mas que não procuram nunca mais a felicidade.
Encontram-se felizes num inferno de problemas,
quem me dera Senhores...

Falo com vocês e depois está na hora de seguir,
saio e olho para a janela do meu mundo,
do meu quarto, do meu refugio da dor e companheiro.
Pergunto-me por vezes de olhar no chão,
percorrendo esta rua em passos seguidos de desilusão;
"Quantas vezes já amei fechado em ti?"
Perco-lhe a conta....
Amei o corpo bem feito de um grande amor que passou,
amei em palavras, amei no telefone nas horas da madrugada
amei no toque, nos textos que escrevi, na vontade...
Amei tanto dentro de ti, sinto-lhe o cheiro.
O odor do amor, do corpo colado a mim, das palavras,
dos beijos, da tinta da caneta, sinto tudo isso no ar.

Enquanto não me tiraram o sonho, amei como um perdido.
Fui um perdido, um agarrado ao amor, um dependente,
libertei-me para amar, levantei asas, que saudade que tenho...
Não de ti, não de mulher alguma, não de amigo algum,
não de amar noites seguídas nesta cama, nada disso.
Mas tenho saudade de saber o que é poder amar alguém,
fosse a fazer o gesto mais desajeitado do mundo, a morder
como um cão de rua.

Mas é assim esta minha rua, onde já correu água minha,
onde ela sabe que sentado nos seus passeios já discuti,
falei, amei, contei, sorri.
Ela sabe, mas nada vos conta, são assuntos nossos que
a cada noite quando volto para casa ela pisca-me o olho
e deseja-me uma boa noite, ou por vezes chora e pergunta
porque não volto a amar como antes?
Ao qual eu me forço a ter que responder;
"Companheira, amar não é o instinto, não é paixão...
Amar é saber jogar as peças na altura certa,
amar não passa de um jogo de oportunidade...
E eu deixei passar o meu tempo, e agora....
agora vou para o refugio pensar no que amo,
ou no que penso amar.
Boa noite"

Momentos

Que bom que é deitar o corpo na cama,
de madrugada depois de um bom copo
uma companhia, uma música reles,
um momento, mais um momento...

Momentos que nos beijam, acariciam,
fazem a felicidade emanar no rosto,
nos poros da nossa pele, qual beijo,
qual carinho tem o mesmo preço
da felicidade que vocês, estranhos,
que não vos conheço me trazem?

Nada nos deixa mais saudade que isto...
Que viver a cada momento a liberdade,
saborear um toque desajeitado, um cigarro.
Como é bom acordar e lembrar, como é bom...

Momentos que nos fazem a vida,
moldam a personalidade como se fosse barro
nas mãos de um oleiro, ou de uma criança
que molda inocente um sonho, uma virtude,
um casco de navio que nada parece, mesmo nada,
a não ser nos teus olhos felizes.

Moldamos o momento como uma criança,
vemos o que não existe, contamos histórias,
falamos do que foram também momentos
dos que deixam a saudade chorar na alma
coberta num sorriso cínico que nos vai nos lábios.
Mas estamos lá, parados, a recordar nos olhos
que nos mentem, porque mesmo neles só vemos
a memória a recordação, o instinto de voltar.

Que momentos únicos que todos já passamos,
que saudade que nos cria água no rosto
que força é esta que nos move para voltar,
repetir, fazer outra vez sabendo mesmo assim
que mais tarde choraremos o mesmo caminho
que choramos hoje a recordar... Momentos!